domingo, 28 de setembro de 2014

Petróleo no Brasil I


Oil stored at Plains All American includes light, sweet crude from Oklahoma (left and middle) and heavier grades from Canada
Petróleos Leves, Intermédias, e Pesados
Para quem acompanha política no Brasil, é fato conhecido que as paixões incendeiam quando o assunto trata de petróleo.  Tem implicações no desenvolvimento do país, nas finanças públicas, no patrimônio histórico, e na defensa da natureza no Brasil.  Algo tão importante sempre vai fazer parte dos debates públicos, assim vale conhecer a configuração da terra em que os debates acontecem.

O exemplo mais recente é uma investigação parlamentar (CPI) sobre uma esquema de corrupção na Petrobras.  Os debates nas comissões relatam uma impressão que talvez a Petrobras seja um gigante caído.  Mas na semana passada, eu li algumas notícias sobre Petrobras que me fizeram reavaliar aquele mal sentimento.  Parece que as operações do estatal nas águas profundas estão seguindo com alguns sucessos e a produção na área Pré-Sal aumenta cada vez mais.  A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) anunciou no seu Plano Decenal que a expectativa é que o Brasil produzirá 2,552 milhões de barris diários de petróleo em 2014 e até 4,448 milhões de barris diários em 2020!  

Ok, se você não tenha parentes tagarelas no setor petrolífero, esses números provavelmente não significam muito para você além do fato que a produção vai aumentar.  Porém, os valores são bem importantes pelo interesse público.  A primeira pergunta  - talvez o melhor lugar começar – é tentar pegar uma noção intuitiva sobre o que significa 4,4 milhões barris diários.  Outras linhas de inquérito naturais são se esse quantidade de petróleo será suficiente para o consumo interno do Brasil em 2020, ou se o país ainda vai ter que importar petróleo?  Quanto dinheiro vai entrar nos cofres do governo?  Fará uma grande diferença no orçamento público?  E como é que o governo pretende gastar esse dinheiro?  Tem tanta coisa atrás dessas perguntas que segue-se uma série de três artigos para dar cada uma o espaço que ela merece.  

O primeiro artigo é uma orientação á alguns conceitos básicos da indústria.  Sem esses conceitos o mundo petrolífero é quase impossível decifrar.  Mas com eles no seu bolso, 50% da indústria faz sentido de repente.   O segundo artigo trata das reservas do petróleo e da produção no Brasil e fora.  Esse artigo esforça-se para colocar o setor de petróleo brasileiro no contexto mundial.  Finalmente, o terceiro artigo fica de olho nos Royalties do petróleo.  Como é que o governo arrecada dinheiro do setor aqui no Brasil, qual é a destinação desse dinheiro, e quais são algumas problemas conhecidos com a prática de vinculação de impostos.


A Sine-Qua-Non da Conversa sobre o Petróleo

Quando o petróleo bruto sai da terra, pode ser líquido grosso e pesado ou de uma consistência mais leve.  A densidade vai depender no campo do óleo, que é um espaço subterrâneo onde o óleo fica preso nas pedras.  Dois campos próximos frequentemente tem óleo de densidades parecidas, mas não tem que ser assim.  Se os campos vem de formações geológicas distintas (e.g. pré-sal ou pós-sal), a qualidade do óleo provavelmente será distinta também. Então, a primeira coisa que você tem que saber quanto petróleo é que a densidade dele é muito, mas muito, importante.

A indústria mede a densidade do petróleo bruto com “graus de API Gravity,” (API = American Petroleum Institute).  Quanto mais graus de API, o mais leve o petróleo.  Um petróleo com menos de 25 graus é considerado “pesado,”  Entre 25 e 34 tem gravidade “média,” e encima disso o óleo bruto é “leve.”  Essa característica do petróleo é central na indústria pois a densidade implica quais refinarias podem processar qual óleo.  Variedades de petróleo bruto que são mais pesados tem cadeias de carbono mais longas.  Equipimento especial é necessário para quebrar as cadeias para fazer produtos mais leves (como gasolina) e nem todo refinaria é construído para fazer isso em quantidades grandes.  Por isso, tem alguns refinarias que especializam em petróleo bruto leve, e outros em óleos pesados.

Outra característica central do óleo bruto é a concentração de enxofre que ele tem.  Se a composição de enxofre no óleo é superior 0,7%, o óleo é “azedo,” e menos do que isso o óleo é “doce.”  Essa característica do óleo também é importante pois a refinaria tem que tirar o enxofre antes de processar, e concentrações altas de enxofre podem causar mais poluição do ar perto da refinaria se não tiver o equipamento apropriado (e o equipamento é caro comprar e operar).  Um óleo pesado e azedo é mais caro processar.  Por isso, óleos leves e doces exigem preços maiores no mercado pois eles precisam ser processados menos.  Se você está a fim de um truco para lembrar qual tipo de petróleo é mais valioso, pense assim: o petróleo é como o amor - o melhor tipo é leve e doce.

Finalmente, é necessário saber que petróleo bruto vai do campo até a refinaria onde ele é processado para fazer vários produtos.  A refinaria separa o óleo bruto em produtos tal como gasolina, diesel, combustível de aviões, bitumen (para fazer estradas), butane (um combustível gasoso), e outros produtos.  Esses produtos são distinguidos pelo peso (de novo – o número de carbonos em cadeia).  Os combustíveis dos carros, dos caminhões, dos aviões e dos návios são coisas plenamente diferente.  Dessa lista, gasolina é o mais leve e os combustíveis fica cada vez mais pesado por caminhões (diesel), aviões (kerosene) e navios (bunker fuel).  Desde que cada Refinaria é diferente, elas não produzem os produtos nas mesmas proporções.  Por exemplo, a Refinaria de Petrobras, LUBNOR, em Ceará não produz gasolina.  Ela produz só produtos super pesados como asfaltos e óleos lubrificantes.  Então, é mais eficiente para ela receber e trabalhar com um óleo bruto que é pesado.  A correspondência entre a tipo de óleo bruto e a refinaria tem uma influência importante no fluxo de óleo mundial.

As Características dos Petróleos Brasileiros 

Os novos petróleos do pre-sal têm uma densidade igual ou mais leve do que os petróleos do pós-sal.  Por exemplo, o petróleo bruto da Campo de Lula (Pré-sal) é com gravidade entre 28 e 30 graus (gravidade intermediária) é doce.  Um gráfico excelente de um relatório de FGV mostra que alguns petróleos brasileiros (como os de Marlim e Albacora Leste – os dois são de pós-sal) são bem pesados em torno de 20 graus  
O Mercado do Petróleo: Oferta, Refino e Preço, FGV Abril 2012
Os novo petróleo do pré-sal vai gerar uma necessidade para aumentar a capacidade das refinarias brasileiras.  E como os novos petróleos são differente do que os petróleos “tradicionais” no Brasil, isso vai requer que as refinarias brasileiras adaptam suas operações para processar o novo óleo. Ultimamente, tem três refinarias em obras no Brasil, todas na Nordeste (Recife, Fortaleza e Maranhão).

Agora que a gente conhece as características do óleo bruto no Brasil e quais são os produtos feitos desses óleos, os próximos artigos têm condições para abordar assuntos importantes como a produção da indústria petrolífera (parte II dessa série) e arrecadação do governo brasileiro (parte III).