Petróleos Leves, Intermédias, e Pesados |
Para quem
acompanha política no Brasil, é fato conhecido que as paixões incendeiam quando o
assunto trata de petróleo. Tem implicações
no desenvolvimento do país, nas finanças públicas,
no patrimônio histórico, e na defensa da natureza no
Brasil. Algo tão importante sempre
vai fazer parte dos debates públicos, assim vale conhecer a configuração da terra em que os debates acontecem.
O
exemplo mais recente é uma investigação parlamentar (CPI) sobre uma esquema de
corrupção na Petrobras. Os debates nas comissões relatam uma impressão que talvez a Petrobras seja um gigante
caído. Mas na semana passada, eu li
algumas notícias sobre Petrobras que me fizeram reavaliar aquele mal
sentimento. Parece que as operações do estatal
nas águas profundas estão seguindo com alguns sucessos e a produção na área
Pré-Sal aumenta cada vez mais. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE)
anunciou no seu Plano Decenal que a expectativa é que o Brasil produzirá 2,552 milhões
de barris diários de petróleo em 2014 e até 4,448 milhões de barris diários em
2020!
Ok, se você
não tenha parentes tagarelas no setor petrolífero, esses números provavelmente não
significam muito para você além do fato que a produção vai aumentar. Porém, os valores são bem importantes pelo interesse
público. A primeira pergunta - talvez o melhor lugar começar – é tentar pegar
uma noção intuitiva sobre o que significa 4,4 milhões barris diários. Outras linhas de inquérito naturais são se esse quantidade de petróleo
será suficiente para o consumo interno do Brasil em 2020, ou se o país ainda
vai ter que importar petróleo? Quanto
dinheiro vai entrar nos cofres do governo?
Fará uma grande diferença no orçamento público? E como é que o governo pretende gastar esse
dinheiro? Tem tanta coisa atrás dessas
perguntas que segue-se uma série de três artigos para dar cada uma o espaço
que ela merece.
O primeiro
artigo é uma orientação á alguns conceitos básicos da indústria. Sem esses conceitos o mundo petrolífero é
quase impossível decifrar. Mas com eles
no seu bolso, 50% da indústria faz sentido de repente. O segundo artigo trata das reservas do
petróleo e da produção no Brasil e fora.
Esse artigo esforça-se para colocar o setor de petróleo brasileiro no contexto
mundial. Finalmente, o terceiro artigo fica
de olho nos Royalties do petróleo. Como
é que o governo arrecada dinheiro do setor aqui no Brasil, qual é a destinação
desse dinheiro, e quais são algumas problemas conhecidos com a prática de
vinculação de impostos.
A Sine-Qua-Non da Conversa sobre o Petróleo
Quando
o petróleo bruto sai da terra, pode ser líquido grosso e pesado ou de uma
consistência mais leve. A densidade vai
depender no campo do óleo, que é um espaço subterrâneo onde o óleo fica preso nas pedras. Dois campos próximos frequentemente tem óleo de densidades parecidas,
mas não tem que ser assim. Se os campos vem
de formações geológicas distintas (e.g. pré-sal ou pós-sal), a qualidade do
óleo provavelmente será distinta também. Então, a primeira coisa que você tem que
saber quanto petróleo é que a densidade dele é muito, mas muito, importante.
A indústria
mede a densidade do petróleo bruto com “graus de API Gravity,” (API = American
Petroleum Institute). Quanto mais graus
de API, o mais leve o petróleo. Um
petróleo com menos de 25 graus é considerado “pesado,” Entre 25 e 34 tem gravidade “média,” e encima
disso o óleo bruto é “leve.” Essa característica do petróleo é central na indústria pois a densidade implica
quais refinarias podem processar qual óleo.
Variedades de petróleo bruto que são mais pesados tem cadeias de carbono
mais longas. Equipimento especial
é necessário para quebrar as cadeias para fazer produtos mais leves (como
gasolina) e nem todo refinaria é construído para fazer isso em quantidades
grandes. Por isso, tem alguns refinarias
que especializam em petróleo bruto leve, e outros em óleos pesados.
Outra
característica central do óleo bruto é a concentração de enxofre que ele tem. Se a composição de enxofre no óleo é superior
0,7%, o óleo é “azedo,” e menos do que isso o óleo é “doce.” Essa característica do óleo também é
importante pois a refinaria tem que tirar o enxofre antes de processar, e
concentrações altas de enxofre podem causar mais poluição do ar perto da
refinaria se não tiver o equipamento apropriado (e o equipamento é caro
comprar e operar). Um óleo pesado e azedo é
mais caro processar. Por isso, óleos
leves e doces exigem preços maiores no mercado pois eles precisam ser
processados menos. Se você está a fim de
um truco para lembrar qual tipo de petróleo é mais valioso, pense assim: o
petróleo é como o amor - o melhor tipo é leve e doce.
Finalmente, é necessário saber que petróleo bruto vai do campo até a
refinaria onde ele é processado para fazer vários produtos. A refinaria separa o óleo bruto em produtos
tal como gasolina, diesel, combustível de aviões, bitumen (para fazer
estradas), butane (um combustível gasoso), e outros produtos. Esses produtos são distinguidos pelo peso (de
novo – o número de carbonos em cadeia). Os
combustíveis dos carros, dos caminhões, dos aviões e dos návios são coisas plenamente diferente. Dessa lista, gasolina é o
mais leve e os combustíveis fica cada vez mais pesado por caminhões (diesel),
aviões (kerosene) e navios (bunker fuel). Desde que cada Refinaria é diferente, elas não
produzem os produtos nas mesmas proporções.
Por exemplo, a Refinaria de Petrobras, LUBNOR, em Ceará não produz
gasolina. Ela produz só produtos super pesados
como asfaltos e óleos lubrificantes. Então, é mais eficiente para ela receber e
trabalhar com um óleo bruto que é pesado.
A correspondência entre a tipo de óleo bruto e a refinaria tem uma
influência importante no fluxo de óleo mundial.
As Características dos Petróleos Brasileiros
Os
novos petróleos do pre-sal têm uma densidade igual ou mais leve do que os petróleos
do pós-sal. Por exemplo, o petróleo
bruto da Campo de Lula (Pré-sal) é com gravidade entre 28 e 30 graus (gravidade
intermediária) é doce. Um gráfico excelente de um relatório de FGV mostra que alguns petróleos brasileiros (como
os de Marlim e Albacora Leste – os dois são de pós-sal) são bem pesados em
torno de 20 graus
O Mercado do Petróleo: Oferta, Refino e Preço, FGV Abril 2012 |
Os novo
petróleo do pré-sal vai gerar uma necessidade para aumentar a capacidade das
refinarias brasileiras. E como os novos
petróleos são differente do que os petróleos “tradicionais” no Brasil, isso vai
requer que as refinarias brasileiras adaptam suas operações para processar o novo
óleo. Ultimamente, tem três refinarias em obras no Brasil, todas na Nordeste
(Recife, Fortaleza e Maranhão).
Agora que a
gente conhece as características do óleo bruto no Brasil e quais são os produtos feitos desses óleos, os próximos artigos têm condições para abordar
assuntos importantes como a produção da indústria petrolífera (parte II dessa
série) e arrecadação do governo brasileiro (parte III).